Segunda-feira, Janeiro 7


No meu jardim
Há uma rosa
De cheiro doce
E jeito fugaz

No meu jardim
Há uma rosa
De pele macia
De curva jeitosa.

No meu jardim
Há uma rosa
De olhos tristes
E canto sereno

No meu jardim
Há uma rosa
Que embala meu sono
E me acorda de manhã
-bem cedo.

Terça-feira, Dezembro 25

Poema de despedida



Despeço-me agora, meu bem,
Não por raiva de ti.
Mas sim por tamanha liberdade
Que convive dentro de mim.

Despeço-me, sim, por demasiado sentimento
Tornar-se sobra diante de tudo
Que vivemos.

Despeço-me com a certeza
De que esses são os últimos versos
Que escrevo para ti.

Pois quando a última palavra for escrita
Nesse instante no meu pensamento
Você não vai mais existir.

Terça-feira, Dezembro 11

La flor de la canela


Sobre la ardiente cama
se recuesta en brama,
furioso mancebo
que de la tierra emana.

Jadeo inconfundible
que el guerrero gime,
herido de caricias
por placer sangra.

Su cuerpo es dulce
cual flor de canela,
sus besos queman
como luz de Veela.

Precioso ser que tendido
aún no está,
sino erguido de noche
es un fugitivo.

Devorando los rincones
de alfombra negra
y suave descanso
es paloma en el regazo.

Llorando lejanía
en el presente
estallido ardoroso,
de mi cumplida fantasía.

Cúbreme de risas
dolorosas, y
mordiscos inconclusos
entre las piernas.
(Goyette dos Gallos)

Quarta-feira, Dezembro 5

Tenho sede




Meu corpo tem uma sede,
Antes insaciável
Era seca nordestina
Era sol rachando sob meu corpo
- também seco.

E toda vez que ameaçava chover
Meu corpo se entorpecia pela necessidade de água.
Mas a chuva não caía, não molhava.

Meu corpo é terra. E é mata.
É mata que pra ficar verde, precisa de chuva,
Precisa de água.

Se teus olhos estão presentes,
Então o meu corpo é represa de água cristalina
É São Francisco em terra salina,
É cachoeira e é mar.

É flor de sertão vermelho e vivo
É coração de oceano
É mar invadindo terra
E a chuva que molha os campos

Segunda-feira, Novembro 19

Areia


Não faça de sentimentos tais
D’uma noite vã
Padecer no silêncio da madrugada
Sem estrelas ou luar.

Não faças de um coração sereno
Um pulsar – deletério
Calar-se de amor novamente.
A noite ainda é longa, porque
Te prolongas tão ausente?

Não me deixe escapar entre teus dedos
Como areia fina da praia
Em que os grãos se espalham pelo vento.
Versos d’água eu te dei
E até pessoa cálida eu me tornei
Para ver meu coração pulsar por ti

Sábado, Novembro 17

Ata-me



Ata-me as mãos
E contida da liberdade
Delas usar,
- ata-me!

Ata-me com laços
De tuas falsas palavras
Ata-me da liberdade de falar.

Ata-me com teus ideais vãos
E da tua pouca lealdade
Ata-me.

Ata-me com sua hipócrita sabedoria
De grotescas verdades
E pensamentos idem.
Ata-me.

Ata-me, e assim, presa
Terei a certeza da infinita liberdade
Do exercício do meu pensar.
Ata-me.

Sexta-feira, Novembro 9

Não me lembro


Não me lembro mais do teu gosto
Do teu riso ou face.

Não me lembro mais da tua fala
Quase fraca, de quem deixa escapar
algo que não queria dizer.

Não me lembro mais de tuas mãos
Ou quando as minhas tocaram-nas,
Suaves, leves, no meu rosto...
Não me lembro!

Não me lembro dos teus olhos
Ou os significados que insistiam
- em me dizer.

Não me lembro mais da sua forma,
Nada, nada. Nada mais me lembro.
Pois não há como lembrar de algo
Que jamais pude esquecer.

Quinta-feira, Novembro 8

Herança

Deixo-te uma rosa
De pétalas entreabertas
De cor púrpura
E cheiro de canela

Deixo-te um riacho
E uma pedra.
E do fio d’água que se divide
As minhas palavras sinceras.

Deixo-te a chama
Que queima – dilacera.
O vermelho da liberdade
E a busca ainda deserta.

Terça-feira, Novembro 6

Foi de repente, mas seu olhar penetrava-me de maneira tal, que jamais
desvendaria o seu significado. Gélido, pálido, estático. Esta fora a última
imagem que tive dela, a menina de olhos parados dentro de uma caixinha de música.
Seria ela bailarina?
Seria ela a que me fascina?
Seria ela sorridente?
Teria ela perninhas saltitantes, jeito de mulher
ou jeito de menina?
Isso que me encanta neste lugar, aqui fico sentada divagando sobre cada um que por aqui passa.
Todos têm algo em comum: o olhar gélido de quem nada olha, ou olha o nada apenas... Não sei. Sei que de todos que aqui passam, ela é a que mais me encanta. Acho que casaria com ela, acho que deixaria de vir aqui por ela.
Não era apenas seu olhar: gélido, pálido, infantil, mas ela tinha mais... Ela tinha um brilho que os
outros perdiam, ela tinha nos lábios um leve sorriso. Ela sorria pra mim... Ela me desejava também.
“Amanhã volto aqui” - dizia, e sempre voltava.
Sentava ali, e ali lia livros diversos, poesia, romances, contos. Todos os contos que se possa
imaginar. Cantava às vezes, mas acho que ela não gostava muito das músicas que recitava, nem
todos têm ouvidos para erudito.

Ela era bela, e assim permanecia – a menina-mulher de olhos gélidos e infantis.

Domingo, Novembro 4

"Eu sei é um doce te amar, o amargo é querer-te pra mim" (L.H)

Ausência

Da ausência da palavra
O teu silêncio ao contrário.

Da ausência do teu corpo
O meu constante pulsar por ti.

Da ausência do beijo,
E do abraço e do riso

Você nasceu presente e constante
- dentro de mim.